sexta-feira, maio 27, 2011

Em quem devemos votar?

Li algo extremamente interessante num  livro que saiu há pouco tempo num jornal (acho que foi no Público) chamado: Filosofia em Directo, de Desidério Murcho. E esse algo deixou-me a pensar...
Digamos que somos passageiros a bordo de um avião e que temos que escolher o piloto que o vai pilotar por votação. «Sem conhecimentos de aviação nem tempo nem disposição para os adquirir, as pessoas não poderiam votar sensatamente no melhor piloto. A probabilidade seria que não nos mais competentes, mas nos mais loquazes, nos mais bonitos ou nos mais ricos e trapaceiros que, por terem mais dinheiro, poderiam fazer melhores campanhas a seu favor. E o resultado seria que muitos mais aviões cairiam, matando muitas centenas de pessoas, do que na situação actual em que não há qualquer democracia na escolha do piloto de avião: este é imposto em função das suas credenciais, que são controladas por pessoas que sabem o que fazem, e não por um qualquer passageiro munido de um boletim de voto».

Pergunto agora: será que também não estamos a escolher os nosso 'pilotos' com base em todos esses factores? Pois, na verdade, quantos de nós estão cientes das competências dos candidatos políticos? Será que a nossa escolha é mais coerente do que a dos ignorantes passageiros?

Ficaria satisfeito com quem conseguir responder-me a esta pergunta de uma forma coerente e credível.

4 comentários:

  1. Vai ser meio apressado aqui, mas vamos lá...

    A maioria da população escolhe políticos corruptos porque são ignorantes, e o pior, não se informam sobre eles, isso praticamente dá carta branca para se fazer tudo, em vez disso, ou escolhem com base no benefício próprio, e não no coletivo, ou com base na popularidade (artistas de tv, por exemplo)

    E nossas escolhas são mais coerentes (em partes) do que os "passageiros", pois por meio de propagandas eleitorais, podemos saber as "propostas" de campanha (apesar disso beneficiar os partidos com melhor recurso financeiro)

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  2. No entanto, mesmo as propagandas eleitorais não nos dizem nada sobre os próprios políticos que as organizam. Porque se nos basearmos nas propagandas não estamos a basear-nos realmente na capacidade dos políticos que as organizam mas si na sua capacidade de organizar boas campanhas.

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  3. Bem,

    Antes de mais, devemos ter em atenção o teu exemplo, ele é bom e lúcido. Contudo, às paginas tantas surge “E o resultado seria que muitos mais aviões cairiam, matando muitas centenas de pessoas, do que na situação actual em que não há qualquer democracia na escolha do piloto de avião: este é imposto em função das suas credenciais, que são controladas por pessoas que sabem o que fazem, e não por um qualquer passageiro munido de um boletim de voto”. Existe aqui uma mensagem muito forte que, creio, não defendes. A ausência de democracia não é a solução do problema, pelo menos em política. A escolha pelo mérito é um processo distinto aplicável para cargos que isso exijam, como o é o político. A questão é ontológica, neste caso, e o centro da discussão não é a opção do eleitorado pelo por determinado político mas, antes, a escolha de determinado homem pela carreira de político (ver Weber). O mesmo se passa com o piloto de aviões ou qualquer outra profissão que seja uma opção pessoal e não uma imposição. Recordo, só para concluir, que em todas as profissões há péssimos profissionais e, acrescem, os erros e desvios incontroláveis. Daqui estamos conversados.
    Depois discutir política exige, pelo menos, dois níveis de consciência distinta: um relativo a estrutura (ideologia) e outro relativo ao indivíduo (político-homem). Poderíamos acrescentar já um terceiro, que é a instituição Democracia, mas vamos centrar nos dois primeiros. Rapidamente: a ideologia é estruturante e, no caso do nosso país, é deveras importante. Somos sociologicamente um país tendencialmente à esquerda fruto do nosso percurso histórico. Isto traz uma primeira consequência, aquilo que se apelida de voto útil, que normalmente cai na esquerda central (vulgo PS). Ainda a nível de ideologia temos a questão dos nossos partidos de centro serem demasiados similares, ou seja, não tem rupturas na sua praxis demasiado visíveis (questão que ideologicamente existe – mas recordemos que o fundador do PSD, Sá Carneiro, era um homem ligado a esquerda social).

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  4. Depois os homens que ocupam os cargos. É de senso comum dizer que os políticos são fracos e nada fazem. De certeza que algum se aproveita: aquele que a nós nos ajuda indirectamente, ou seja, o vulgo populismo. De forma genérica, temos uma classe política corrupta e corrompida, sobretudo aquela que de uma forma ou de outra já esteve no governo. É mais comum do que aquilo que pensamos, porque os partidos são máquinas económicas que respondem a grupos de interesses. Existem é homens mais vulneráveis a esses grupos que outros mas, de forma geral, não reconheço santos na política, até porque esta é a arte de governar e chegar onde se quer de por onde der (ver Maquiavel). Portanto, muitas vezes, o melhor político, na óptica do organismo partidário, é o mais obstinado. O mesmo se aplica do ponto de vista do grosso das pessoas.

    Resumidamente ficam atrás algumas ideias. Agora respostas:
    1) Escolhemos os políticos com base em todos os factores que referes e mais alguns. Estes têm verdadeiras máquinas de propaganda que te fazem chegar um conjunto de mensagens que correspondem ao eleitorado que se pretende atingir (por exemplo, o Paulo Portas cultivou toda a vida a imagem de Paulinho das feiras porque lhe convêm). Portanto, como em quase tudo na vida, os políticos são produtos de marketing.
    2) As capacidades de um candidato são difíceis de discernir até porque o que tu vês é uma mascara (ver Goffman), digamos o papel de político. Portanto quando muito vais saber o que ele quer que tu saibas e não o que ele na realidade é. Mais, durante a campanha tu lês uma cartilha escrita pelo aparelho para aquela pessoa e não as ideias que ele defende porá e simplesmente (questão da ideologia). Portanto por aqui também não te safas…
    3) A tua terceira questão, como que resume as anteriores. Não saberás se a tua escolha foi a melhor, até porque nunca poderás comparar resultados – é a vida real - mas pode ser mais objectiva porque todos nos somos animais políticos (Aristóteles, Marx) logo, com maior ou menor capacidade, temos opinião sobre determinado assunto e podemos escolher sobre uma base.
    Para terminar temos a questão levantada por Platão do governo ideal, ou o governo dos filósofos e pensadores. A conclusão é que não iria funcionar. A política exige acção, tomada de decisão concreta e, aqui, todos falhamos todos os dias. A questão do voto, independentemente em quem se vota, não pressupõe ignorância, mas crença em ideias e pessoas.

    PS- desculpa ser assim resumido. Mas tudo isto são ideias que para serem expressas demoram seriam muito longas.

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