sexta-feira, julho 30, 2010

"Viver a vida"

Adoro quando as pessoas dizem: "Estou a viver a vida!"; ou: "Tens que viver a vida!". Então pergunto-me: "Qual o significado de 'viver a vida'? Bem, eu sei as respostas das pessoas que afirmam o que anteriormente referi: "Viver a vida é aproveitar o momento. É aproveitar a vida e fazer o que gostamos e o que nos dá prazer.". E o que nos dá prazer? Bebidas, drogas, tabaco, sexo... Não preciso de afirmar que essas coisas que referi, excepto o sexo, a não ser que este seja descontrolado, são prejudiciais à vida do Homem. Com ou sem excesso, temos que admitir que são porque corrompem-nos e distorcem a nossa personalidade não sabemos bem como. Para mim, coisas como essas são obviamente más, por mais prazer que nos possam trazer. Isto porque esse prazer que elas nos fornecem é físico e superficial.

Para mim, viver a vida é mais do que isso. Viver a vida é algo profundo, como o é a própria vida. Viver a a vida BEM é amar a própria vida, e não desperdiçá-la. Quem ama a vida vive-a bem. A vida não se reduz ao tabaco, ao álcool, ao sexo e a todas essas coisas carnais. Viver a vida é aproveitar os momentos presentes, concordo. Mas não alimentando o nosso corpo, satisfazendo as necessidades perversas e supérfluas que este exige. É alimentar a alma, que pede para ser alimentada e não esquecida...

O Anticristo

 
Já acabei de ler o livro que estava a ler (O Anticristo). Tenho que admitir que não percebi grande parte do livro mas gostei do que consegui entender.

É um livro que eu recomendo aos que se consideram cristãos, apenas para que se familiarizem com uma perspectiva diferente daquela a que estão acostumados.

Deixo aqui o capítulo que, na minha opinião, melhor define o livro (Capítulo 15):

"No cristianismo, nem a moral, nem a religião, estão em contacto com a realidade. Nada mais do que causas imaginárias («Deus», «a alma», «eu», «espírito», «livre-arbítrio» - ou mesmo o arbítrio que não é «não livre»); nada mais do que efeitos imaginários («o pecado», «a salvação», «a graça», «a expiação», «o perdão dos pecados»). Uma relação imaginária entre os seres («Deus», «os espíritos», «a alma»); uma imaginária ciência natural (antropocêntrica; uma absoluta carência do conceito de causas naturais); uma psicologia imaginária (nada mais do que mal-entendidos, interpretações de sentimentos gerais agradáveis ou desagradáveis, tais como os estados do grande simpático, com a ajuda da linguagem figurada das idiossincrasias religiosas e morais) - («o arrependimento», «a voz da consciência», «a tentação do Demónio», «a presença de Deus»); uma teleologia imaginária («o reino de Deus», «o Juízo Final», «a vida eterna»). - Este mundo de puras ficções distingue-se, para sua desvantagem, do mundo dos sonhos, pois que este reflecte a realidade, enquanto o outro mais não faz do que falseá-la, depreciá-la e negá-la. Desde que o conceito de «natureza» foi inventado como oposição ao conceito de «Deus», «natural» tornou-se o equivalente de «desprezível» - todo este mundo de ficções tem a sua raiz no ódio contra o natural ( - a realidade! - ), o ódio é a expressão do profundo incómodo causado pela realidade. Mas isto explica tudo. Quem é que tem razões para sair da realidade através de uma mentira? Só aquele a quem a realidade faz sofrer. Mas sofrer, nesse caso, significa ser ele próprio uma realidade falhada... A preponderância do sentimento de pena sobre o sentimento de prazer é a causa desta religião, desta moral fictícia: um tal excesso fornece a fórmula para a decadência..."

quarta-feira, julho 14, 2010

Ágora

Vi este filme no cinema e, agora que o tenho em DvD, já o vi outra vez. Está simplesmente fascinante e quem o achou uma seca ou não percebeu a história e a moral que encerrava ou é insensível.

«Século IV d.C. No Egipto, sob o poder do Império Romano, violentos confrontos sociais e religiosos invadem as ruas de Alexandria… Presa entre paredes, sem poder sair da lendária livraria da cidade, a brilhante astrónoma, Hypatia, com a ajuda dos seus discípulos, faz tudo para salvar os documentos da sabedoria do Antigo Mundo… Entre os discípulos, encontram-se dois homens que disputam o seu coração: o inteligente e privilegiado Orestes e o jovem Davus, escravo de Hypatia, dividido entre o amor secreto que nutre por ela e a liberdade que poderá ter ao juntar-se à imparável vaga de Cristãos.»

sábado, julho 03, 2010

Deus e a religião

(Só os interessados é que vão ter paciência para ler isto tudo)
Alguns de vós já sabem ou já perceberam que não sou católico. Não acredito na existência de Deus. Considero-me agnóstico apesar de ser ateu. Digo que o facto de Deus existir ou não não me interessa mas, na verdade, interessa-me, bastante.
Já lá vai um tempo desde que me comecei a interrogar sobre a religião e sobre Deus (Deus existe? Para que serve a religião? Como é que a existência de Deus contribui para a nossa felicidade?). A curiosidade era muita e a informação que tinha, pouca. Então, com uma inabalável determinação de provar que a existência de Deus em nada contribui para a minha felicidade ou para a de qualquer outro ser humano, comecei a fazer pesquisas no meu livro de filosofia, onde era abordado este tema, tal como eu queria. Encontrei várias teorias que tentavam responder à pergunta: O que é a religião? Esta pergunta, por sua vez, relaciona-se com a pergunta que tanto desejava e ainda desejo responder: Deus existe?

A primeira teoria que encontrei era de Sigmung Freud. Foi a teoria que mais me convenceu: Uma das experiências fundamentais do ser humano é a sensação de segurança e necessidade de protecção e amparo. Para Freud, a religião surge como mecanismo de defesa perante as ameaças da natureza e a dureza das relações socias. Deus será assim concebido como o Protector supremo, o ser todo-poderoso que alivia a angústia e o medo do homem perante a realidade, que consola e ampara. Tal como o pai está para o filho, assim Deus está para o Homem. A religião corresponde, assim, a um estádio infantil da humanidade, à constante necessidade de ter um pai na relação com o qual se vive um sentimento ambivalente: amor e medo. A religião é um remédio ilusório para as dores e a frustação do ser humano.

Não podia concordar mais! Contudo, também concordo com a teoria de Karl Marx, que defende que a religião é o ópio do povo: O mundo religioso, o "Reino de Deus", não tem consistência própria, não é verdadeiramente real. É a "flor imaginária" que decora os grilhões que oprimem os explorados. A religião, segundo Marx, ensina os explorados que o mundo real e miserável em que vivem não tem valor e que o importante é o "outro mundo", o "reino de Deus", lugar onde os sofredores e humilhados encontrarão justiça e felicidade. Assim, Marx afirma que a religião é antirevolucionária porque convida o homem a esperar a chegada de um mundo justo. Como esse mundo está para além deste, cria-se na mente da criatura oprimida a convicção de que o sofrimento é, apesar de tudo, um passaporte para a eternidade e de que, no fundo, os homens são incapazes de justiça e humanidade. A religião justifica, apesar de parecer o contrário a opressão dos explorados pelos exploradores. Ela é um "sintoma" da desumanidade do mundo dos homens e não o remédio para esse mal.

Para além destas teorias, que considero suficientes para justificar, no mínimo, o facto de EU não acreditar em Deus, o facto de ser ateu, ainda existe uma outra, apresentada por Nietzsche: O homem, incapaz de enfrentar a realidade única (o mundo em que vivemos), inventa um mundo que satisfaça os seus desejos de segurança, certeza e estabilidade, para nele se refugiar. Facilmente se odeia "este mundo". Facilmente se esquece o que tem de bom e agradável. Então, imagina-se "outro mundo" e chama-se-lhe "mundo do ser", "verdadeira realidade", o "Reino de Deus". Nietzsche considera esta atitude uma cobardia perante a realidade. Os fracos não toleram a instabilidade, a dor e a imprevisibilidade, que são características do mundo terreno. É de tal modo profundo o seu desejo de que exista esse mundo justo que transformam um mundo inventado num mundo verdadeiramente real e superior. Segundo Nietzsche, o "Reino de Deus" é uma miserável invenção de vontades fracas e impotentes, de realidades falhadas incapazes de aceitar que a vida é uma combinação de dor e alegria, de estabilidade e de instabilidade. A religião não é uma simples deformação da realidade. O "Reino de Deus" é uma ficção destinada a desprezar, caluniar e destituir o mundo terreno de qualquer valor.

Bem, depois de tanto argumento, já devem estar um pouco cansados, não? Mas não será que todos esses senhores tinham razão quanto ao que diziam? Pois então, vocês, católicos, justifiquem lá o porquê da existência de Deus? Penso que argumentar melhor do que esses filósofos é difícil. Porque é que Deus existe, se é que existe? E (ainda mais interessante), quem são mais felizes: os ateus ou os católicos?

(O que é válido para  religião católica é válido para as outras religiões)

sexta-feira, julho 02, 2010

Desejos

Vi algo de muito interessante na televisão. Estava a comer na sala e a televisão da cozinha estava acesa (nada económico eu sei mas não fui eu que a acendi e por isso nem me lembrei de a apagar). Cheguei à cozinha para ir buscar a pizza que estava no forno e olhei para a televisão. Ouvi apenas alguém dizer: "(...) Nunca tiveram electricidade (e outras coisas que agora não me lembro)"; "(...)Contentam-se com uma bola de futebol (...)". Depois, a entrevistadora perguntou a um dos meninos (o menino era negro por isso, provavelmente, era africano e a reportagem, provavelmente, passavasse em África): "O que é que vos falta?", ao que o menino respondeu: "Nada... nada. Não nos falta nada".

Que inveja que eu tenho desses meninos! Pensamos que eles, apesar de serem pobres, precisam de ajuda. Bem, quem precisa de ajuda somos nós! Tanta coisa nós desejamos e, contudo, tanta coisa que temos a mais que esses meninos, que eram felizes apenas com uma bola de futebol. Queremos ser inteligentes, ser amados, ser felizes, ter sorte na vida, ... Esses meninos, que nada desejavam, eram mais felizes que nós, que tudo desejamos.

Apenas queria dar um conselho a todos os que se interessam pelo que escrevo: limitem os vossos desejos. Limitem-nos e serão felizes. Já John Stuart Mill dizia: "Aprendi a procurar a felicidade limitando os meus desejos e não satisfazendo-os". Concordo plenamente com ele. Apesar de a frase não me sair da cabeça, tenho que admitir que é difícil. É difícil abandonar o que sempre desejámos porque sempre o desejámos.

Albert Einstein dizia: "Uma mente que se abre a uma nova ideia jamais volta ao seu tamanho original". Concordo, novamente. Nós, que pensamos que tanta coisa nos pode fazer felizes, como ter muito dinheiro ou ter um carro topo de gama ou ser sobredotado, desejamos muito, desejamos muito e temos pouco. Esses meninos, pelo contrário, que provavelmente nem sabem o que é um carro, pouco desejam e tudo têm. Têm algo que não temos: contentamento...