encontrei-me numa selva escura(1),
porque me tinha extraviado da via do bem(2).
Ah quanto é árduo e doloroso dizer qual era
esta selvagem, áspera e infranquiável
da qual só a lembrança me renova o terror!
Selva quase tão amarga como a morte!
mas para patentear o bem que eu aí encontrei,
falarei de outras coisas que então vi.
Eu não posso bem dizer como entrei,
tanto eu estava cheio de pecado, no momento
em que eu abandonava a via do bem.
Mas, quando cheguei ao pé duma montanha(3),
onde e fecahava o obscuro vale
que de terror me tinha trespassado o coração,
olhei para o alto, e vi os flancos da montanha
vestidos já dos raios do Sol(4),
que guia direito os viadantes.
Então o medo acalmou um pouco -
o tempo de desânimo, passado em grande angústia,
que tanto tinha durado no profundo coração.
Qual um náufrago que, com fôlego ansiado,
tendo escapado do mar profundo, enfim, sobre a
margem, se volve para a água perigosa e olha fixo,
assim o meu espírito, que sentia ainda a ansiedade
de salvar-se, volta-se para rever a passagem da
selva, que nunca ninguém transpôs com vida.
Notas:
1 - selva escura: a vida humana, o mundo - a selva dos erros e das paixões.
2 - via do bem: sobre a qual a Humanidade devia caminhar.
3 - montanha: a vida virtuosa.
4 - Sol: Deus
ESta fixe
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