Para quem espera ansiosamente por novas mensagens, peço desculpa. Casa de verão, não internet, total liberdade.
Passo agora a registar um dos pensamentos, de entre muitos outros, que me ocorreu no Verão e que eu fiz tenção de anotar. Simples reflexões momentâneas que, no entanto, retratam sentimentos contínuos.
«Diversão é algo tão necessário na minha idade como qualquer outra coisa. No entanto, há limites e, na minha idade, esses limites já são um pouco restritos. Deve sempre haver tempo para a diversão, mas também o deve haver para a reflexão.
E isso é o que tenho tentado fazer ver aos moucos dos meus amigos. Pois para eles, não há tempo para reflexões; a sua vida é construída com base na diversão, e nada mais que isso. Mas de mim, a reflexão faz parte, assim como deveria fazer parte deles, caso quisessem chegar mais longe na vida; além daquela existência animalesca e grotesca.
Vejo-me, pois, como um mosquito no meio desta bicharada toda. Sou eu que estou ali para os picar, para drenar os dogmas e preconceitos sobre assuntos dos quais eles estão convencidos que conhecem e dominam. Sou eu que ali estou para os infectar com dúvidas e filosofias que nunca lhes passaram pela cabeça antes de os picar.
Contudo, esta tarefa não é fácil, pois ser amigo de um mosquito é difícil. Caso não resistam à infecção, o que apenas demonstra o quão animalescos, grotescos e frágeis são, vão querer esborrachar-me e calar-me como se esborracha e cala um mosquito, para sempre. Caso se tornem meus amigos, vão ter de suportar as doenças que lhes trago. E se quiserem viver, curar-se, vão ter de abraçar essas infecções ou combatê-las. Noutro caso, ou vivem e morrem doentes ou acabam com a origem da doença, como é mais fácil. É o que todos fazem, de uma maneira ou de outra, pois nenhum deles quer ficar doente, nem nenhum deles se quer curar.»
Com isto, queria apenas descrever a profunda frustração que sentia e que continuo a sentir. Quero apenas que duvidem, que reflictam, que pensem. Que abraçem essas infecções, essas doenças, e que lutem contra elas. Não mais que isso. Mas antes de poder explicar o que quero, já fui esborrachado. Morto a sangue frio como qualquer mosquito o é...